Quem cuida precisa ser cuidado. Essa é frase que resume a atual situação dos enfermeiros e profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate à Covid-19 no Brasil.
No momento em que se completa um ano da pandemia do coronavírus, a pesquisa ‘Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19’, da Fundação Oswaldo Cruz traz à tona a exaustão física e mental que a doença tem causado para aqueles que lidam dia a dia com o vírus, salvando vidas.
O estudo ouviu 15 mil profissionais da saúde de nível superior (a maior parcela de médicos e enfermeiros) em 2.200 municípios em todo o território nacional.
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Segundo a FioCruz, esse é “o mais amplo levantamento sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde desde o início da pandemia”, pois avaliou diferentes fatores, como condições de trabalho, aspectos físicos, emocionais e psíquicos. A conclusão após o estudo? Os profissionais de saúde estão exaustos e precisam de ajuda.
Isso é notório quando se observa que, de acordo com a pesquisa, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores e 43,2% sentem falta de proteção à própria saúde.
Essas alterações decorrem do elevado número de casos e mortes de pacientes, assim como de colegas de profissão, amigos e familiares. Mas, não se limita a isso. Há os impactos decorridos das mudanças no bem-estar pessoal e na vida profissional.
Excesso de trabalho e dupla jornada
De acordo com a pesquisa, 50% dos profissionais de saúde admitiram excesso de trabalho ao longo deste ano de pandemia. Aliás, eles relataram jornadas que ultrapassam 40 horas semanais.
Além disso, a dupla jornada correspondeu a 45%. Ou seja, quase metade dos profissionais necessitam de mais de um emprego para sobreviver.
No que se refere às mudanças na rotina profissional, 22,2% informaram que convivem com um trabalho extenuante. E, 14%, dos profissionais que estão na linha de frente do combate à Covid-19, afirmaram que estão no limite da exaustão.
Esgotamento físico e mental
A coordenadora do estudo, Maria Helena Machado, explica que a pesquisa retrata a realidade dos profissionais que atuam na linha de frente contra a pandemia e detalha muitos dos desafios enfrentados, lembrando que sentimentos como dor, sofrimento e tristeza, atrelados com fortes sinais de esgotamento físico e mental, são predominantes.
“O medo da contaminação e da morte iminente acompanham seu dia a dia, em gestões marcadas pelo risco de confisco da cidadania do trabalhador (perdas dos direitos trabalhistas, terceirizações, desemprego, perda de renda, salários baixos, gastos extras com compras de EPIs, transporte alternativo e alimentação)”, detalhou.
Desgaste mental: insônia, depressão e suicídio
O estudo aponta que a pandemia ocasionou prejuízo e consequências graves à saúde mental dos profissionais de saúde. Entre as alterações mais comuns no seu cotidiano, de insônia, a estresse e, até mesmo, pensamentos suicidas foram apontados pelos profissionais. Veja os principais danos:
- Falta de sono: 15,8%;
- Irritabilidade, choro frequente e distúrbios em geral: 13,6%;
- Incapacidade de relaxar, estresse: 11,7%;
- Dificuldade de concentração ou pensamento lento: 9,2%;
- Perda de satisfação na carreira ou na vida/tristeza/apatia: 9,1%;
- Sensação negativa do futuro/pensamento negativo, suicida: 8,3% e,
- Alteração no apetite/alteração do peso: 8,1%.
Insegurança no trabalho
De acordo com a pesquisa, 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento da Covid-19. E para 23% dessa fatia, a insegurança se dá pela falta ou inadequação dos equipamentos de proteção individual (EPIs).
Além disso, um dado alarmante: 64% revelaram que já precisaram improvisar equipamentos para sua proteção.
Não à toa, entre os medos relacionados ao local de trabalho, 18% alegaram temer a contaminação pelo vírus, a ausência de estrutura adequada para realização da atividade foi citada por 15%, enquanto isso, 12,3% destacaram que os fluxos de internação são ineficientes.
A enfermagem está muito cansada
Os dados da pesquisa vêm de encontro com o que o enfermeiro e, também, professor Pós-graduação em Trauma, Urgência, Emergência e Terapia Intensiva, do PGE – Enfermagem de Valor, Mikael Flambertto, alerta: a enfermagem está muito cansada.
Em entrevista à equipe de reportagem, Flambertto citou alguns dos problemas de saúde que ele tem presenciado entre as equipes de enfermagem e desabafou sobre a exaustão da classe.
“Nós temos, e eu vivencio isso diariamente, muitos enfermeiros, técnicos de enfermagem e profissionais de enfermagem com depressão, síndrome do pânico, síndrome de Burnout, por conta do esgotamento. São muitos pacientes e, diariamente, os profissionais sem veem frente à morte com esses pacientes e com os colegas ficando doentes, com risco de morte. Emocionalmente, a enfermagem já está muito cansada, extrapolada”.
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